Jovens da Escola Estadual Jovem Protagonista, que atende a 7 unidades socioeducativas, falaram de suas experiências no ensino regular e como seria escola que gostariam de frequentar
Relatos de esperança por oportunidades, mas também de infância e juventude marcadas por exclusão e violência foi o tom da roda de conversa que reuniu alunos das sete unidades da Escola Estadual Jovem Protagonista, que atende adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, na manhã desta terça-feira (03/10) na unidade do Horto, em Belo Horizonte. A ação foi parte das atividades preparadas pela instituição para a Virada Educação Minas Gerais, trabalhando o tema Juventude, com o propósito de ouvir dos próprios jovens qual a escola que gostariam de ter.
O diálogo, ou a falta dele, e a participação foram os motes do debate. A juventude das unidades da Escola Estadual Jovem Protagonista também demonstrou que quer opinar, quer sugerir, que ser ouvida. Entre os dias 19 e 22 de setembro, durante a Semana Escola em Movimento, os alunos das unidades de internação do sistema socioeducativo assistiram a filmes, seguidos de debate dos conteúdos, como o documentário “Nunca Me Sonharam”, do diretor Cacau Rhoden, que fala sobre os desafios do presente, as expectativas para o futuro e os sonhos de quem vive a realidade do ensino nas escolas públicas do Brasil; e “Pro dia nascer feliz”, de João Jardim, que aborda o sistema educacional brasileiro, descrevendo realidades escolares de diferentes contextos sociais, econômicos e culturais, do ponto de vista da instituição, do aluno, do professor e da família.
Segundo o vice-diretor da escola, Tiago Pereira, a semana Escola em Movimento possui o viés de divulgação das avaliações internas e externas e a compreensão das dificuldades enfrentadas pelas instituições. “Nossa escola entende esta análise de forma mais complexa, levando em conta a construção de um vínculo escolar como algo que vai além dos conteúdos ou resultados quantitativos. A subjetividade é correspondida neste sentido. Pensamos a educação de forma ampla, considerando a importância da escolarização para a medida socioeducativa. Neste sentido, promovemos nossa Semana com debates e produções, tanto dos professores quanto dos alunos. Os docentes discutiram sobre aprendizagem, gestão escolar, avaliações, projetos, garantia de direitos, entre outros temas. Os alunos viram os filmes, debateram e registraram suas impressões de diferentes formas”, contou Tiago.
Roda de conversa
Durante a roda de conversa, eles falaram sobre o que entenderam dos filmes, leram seus textos e expuseram suas opiniões sobre suas experiências com as escolas e compararam o que viram na tela e suas vivências na vida escolar. “Foi uma experiência gratificante, uma oportunidade dos jovens falarem de suas experiências de escola, tanto antes da medida de internação como agora. Falaram de suas ansiedades, esperanças e expectativas”, pontuou a coordenadora de Educação em Direitos Humanos e Cidadania da Secretaria de Estado de Educação (SEE), Kessiane Goulart, que esteve presente na roda de conversa.
Para o vice-diretor da escola, a roda de conversa foi um momento muito importante para que esses jovens pudessem ser ouvidos. “Somos sete unidades, cada uma com um perfil diferenciado. É uma oportunidade também de avaliarmos a escola que estamos oferecendo. Não podemos ficar nos limites dos sistemas de avaliação convencionais, pois o socioeducativo precisa também de um olhar diferenciado, algo mais subjetivo. É um trabalho de retomada do vínculo desse jovem com a escola”, relata Tiago Pereira.
A professora de língua portuguesa, Ana Paula Diniz, disse ser preciso um trabalho diferenciado, de entender o universo de cada um, já que “no sistema socioeducativo, trabalhamos com alguns jovens que ficaram muito tempo longe das salas de aula”.
Exposição
Além do debate, foram produzidos textos e trabalhos artesanais que estão em exposição, com entrada gratuita, no Plug Minas, no bairro Horto, em Belo Horizonte, no espaço Caminhos do Futurto, até sexta-feira (6/10). Em sua 5ª Edição, a exposição Marca apresenta os trabalhos e produções dos alunos e alunas da Escola Estadual Jovem Protagonista, representando e registrando suas impressões, sentidos e interpretações cotidianas dentro e fora do sistema socioeducativo por meio de expressões artísticas. Marca é um convite a ver os estudantes para além da imagem midiática do “menor infrator”, possibilitando um olhar mais atento para os adolescentes ressocializados.
Diagnóstico
O Estado de Minas Gerais possui 24 Unidades Socioeducativas, que são administradas pela Secretaria de Estado de Segurança Pública, por meio da Subsecretaria de Atendimento Socioeducativo. Os adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas nas referidas Unidades recebem atendimento escolar, por meio de escolas estaduais da Secretaria de Estado de Educação. Em todas as unidades é oferecida a Educação Integral e integrada.
Diagnóstico produzido pela Diretoria de Gestão da Informação e Pesquisa, da Subsecretaria, em 2015, apontou que a maior parte dos adolescentes atendidos nas unidades socioeducativas não possuía vínculo com a escola: encontravam-se evadidos, não matriculados ou mesmo, quando matriculados, estavam infrequentes. Entre as consequências desse fenômeno havia um grande número de adolescentes com distorção idade/ano de escolaridade e que apresentavam dificuldades na construção e consolidação dos conhecimentos escolares.
Segundo o levantamento, em 2015, a taxa de distorção idade/ano dos adolescentes que chegam à medida de internação e semiliberdade atingiu o índice 99,7%, sendo que, deste percentual, cerca de 20% dos apresentam média de 4,3 anos de distorção entre a idade e ano de escolaridade em que se encontram matriculados. Conclui-se, a partir dos dados anteriores, que há uma clara relação entre a trajetória infracional e o distanciamento da escola, uma vez que quase 100% dos jovens atendidos pelo sistema socioeducativo possuem distorção idade/ano e consequente defasagem do conhecimento.
Por Elian Oliveira (ACS/SEE-MG)