O Governo de Minas Gerais, por meio da Fundação João Pinheiro (FJP) e da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário (Seda), com apoio da Secretaria de Estado de Educação (SEE), do Instituto Rene Rachou – Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade de York, lançou, nesta terça-feira (26), em Belo Horizonte, o livro “Mulheres do Campo de Minas Gerais: trajetórias de vida, de luta e de trabalho com a terra” e o “Diagnóstico Quantitativo das Mulheres do Campo de Minas Gerais”.
Composto pela biografia coletiva de 12 mulheres organizada pela pesquisadora e analista educacional da Coordenação Estadual da Educação do Campo e Educação Indígena da SEE, Marina Coimbra, o livro conta com dois anexos: uma coletânea de 12 livretos voltados para a Educação Infantil, que serão distribuídos pela SEE nas escolas rurais do Estado, e a série especial Mulheres do Campo, do programa Mulhere-se, da Rede Minas, com oito episódios.
A pesquisadora Marina Amorim explica que o grupo responsável por identificar e dar visibilidade à situação e ao trabalho das mulheres do campo visitou 12 comunidades rurais nos municípios de Belo Horizonte, Bom Despacho, Porteirinha, Santa Fé de Minas, Montes Claros, Itinga, Diamantina, Aimorés, Campo do Meio, Divino, Espera Feliz e Simonésia. Em cada uma delas, os movimentos sociais indicaram uma agricultora para ter sua biografia escrita.
“Passamos uma semana com elas, vivenciamos suas rotinas, sua lida com a terra, identificamos como elas são vistas pela sociedade em que vivem, como seu trabalho é encarado por seus maridos e familiares e pela comunidade. Percebemos, por exemplo, que muitas das mulheres que plantam, colhem e garantem o sustento da família, sem vender os produtos, não são consideradas trabalhadoras, mas ajudantes de seus maridos e companheiros. E isso está errado, o que elas produzem tem de ser contabilizado, afinal, é um dinheiro que deixaram de gastar com alimentação da família”, explicou Marina.
Por essa e outros tipos de situação, Marina afirma que o que se buscou, com esse trabalho, foi dar voz para essas mulheres mostrarem sua importância e seu valor. “O livro reúne a história de apenas 12 mulheres, mas o conteúdo é muito representativo para o que acontece em todo o Estado”, disse a pesquisadora.
A coordenadora de Educação do Campo e Educação Indígena da SEE, Érica Fernanda Justino, explica que, no contexto educacional, o material é muito significativo. “Os dois anexos podem ser utilizados na escola. Os episódios da série Mulheres do Campo podem ser trabalhados com uma perspectiva mais acadêmica e voltados para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio. E os livretos, com a Educação Infantil e os anos iniciais do Fundamental. Com os dois materiais, o objetivo é o mesmo: dar visibilidade para a mulher no contexto do campo, descontruir a visão de que a mulher de uma comunidade rural tem a função de apenas cuidar de tarefas domésticas, e ajudar na reconstrução de uma estima mais elevada para estudantes do campo em geral, sejam meninos ou meninas, homens ou mulheres, que geralmente são estigmatizados por viverem em comunidades rurais”, explicou Érica.
A Secretaria de Educação vai reproduzir 2 mil exemplares físicos para distribuir em todos os territórios de desenvolvimento de Minas Gerais. O livro completo está disponível neste link.
Formação
Em parceria com a Fundação João Pinheiro, a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais vai promover, em breve, uma formação de professores e especialistas para facilitar a inserção pedagógica desse material. “Pretendemos propor condições aos educadores de como eles podem potencializar o uso de todo o material que foi produzido por meio dessas pesquisas. Não só do livro, mas também do diagnóstico. Precisamos reforçar todas as maneiras de chegar às escolas o conceito de que as mulheres têm um papel muito importante dentro da produção e agricultura familiar, e que elas têm tido muita ascensão com esse trabalho. Um exemplo é o maior acesso aos mercados institucionais, especialmente pelo programa de alimentação escolar”, disse Erica.
Diagnóstico
O Diagnóstico Quantitativo das Mulheres do Campo de Minas Gerais, realizado pela pesquisadora Ana Paula Salej, também da FJP, por meio da recuperação de dados estatísticos e dos registros disponíveis sobre essas mulheres, irá fornecer subsídios para que gestores públicos direcionem esforços e recursos de forma coerente para a elaboração de políticas adequadas a esse segmento da população.
Projetos
Tanto o livro quanto o diagnóstico são resultado de dois projetos de pesquisa solicitados à Fundação João Pinheiro pela Seda, que surgiram a partir de uma série de demandas apresentadas, em 2015, pela Articulação de Mulheres do Campo de Minas Gerais ao governo estadual. Entre as principais reivindicações, destacou-se a necessidade de estudos que desvelassem a presença e a participação intensa das mulheres nas diferentes atividades econômicas do campo.
A demanda sublinhava ainda questões acerca do protagonismo dessas mulheres no que concerne à agricultura familiar e à agroecologia, destacando-as como um segmento específico no interior dos movimentos do campo e dos movimentos feministas que procuravam combater a exploração das trabalhadoras por meio do ecofeminismo.