Após parceria e mobilização com a comunidade, Escola Estadual São Pedro e São Paulo aumentou de 50 para 102 o número de alunos na Educação de Jovens e Adultos
A Escola Estadual São Pedro e São Paulo duplicou as vagas na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Localizada no bairro Piratininga, em Belo Horizonte, a instituição de ensino começou 2017 - primeiro ano em que oferta a modalidade de ensino - com 50 estudantes e, após parcerias e mobilização com a comunidade, ampliou para 102 o número de alunos atendidos na EJA. “Panfletamos, colocamos comunicados em igrejas, padarias e outros comércios da região. Além disso, fizemos acordo com o Centro de Prevenção à Criminalidade (CPC) da regional Venda Nova e a Central de Acompanhamento de Penas e Medidas Alternativas (Ceapa)”, explica a diretora da escola, Rosani Belico, acrescentando que mais de 50 pessoas estão na fila aguardando uma oportunidade para voltar aos estudos.
Com o aumento da demanda, a instituição precisou utilizar o espaço físico da Escola Estadual Ari da Franca, no Bairro Santa Mônica, para as aulas do 6º ano do Ensino Fundamental e do 1º ano do Ensino Médio. “São três turmas de EJA, mas, decorridos menos de quinze dias, esta modalidade já era um sucesso e tivemos que fechar parceria com outra escola para acolhermos todas as solicitações. As salas estão lotadas, a cada dia chegam mais interessados, então, teremos que abrir, no próximo semestre, mais turmas à noite ”, afirma a diretora.
Grasiela Félix Magalhães, superintendente regional de ensino da Metropolitana C, reforça que a EJA promove a inclusão. “É uma formação humana, pois estamos atendendo e incluindo no processo de socialização indivíduos que, por certas escolhas de vida ou por dificuldades físicas e psicológicas, muitas vezes, estão à margem da sociedade. Alguns participantes ocupavam outros espaços da comunidade, como as ruas, e encontram na EJA uma oportunidade, uma chance de recomeço”, destaca.
Além de moradores do Piratininga, a Escola Estadual São Pedro e São Paulo recebe pessoas do Céu Azul, Lagoa, Jardim Leblon e outras comunidades próximas. No Fundamental, a idade dos participantes varia entre 15 e 17 anos, e, no Médio, entre 18 e 60 anos. “O nosso público é diversificado. Temos jovens, adultos, idosos, pessoas com deficiências físicas e mentais, e pessoas com problemas de vulnerabilidade social”, diz Rosani.
Cidadania
Dirigindo a escola desde 2000, a pedagoga Rosani Belico, com quase 40 anos de experiência na área da Educação, afirma que a oferta e ampliação da EJA, além de garantir o direito à educação e aprendizagem, resgata a cidadania dos estudantes. “Alguns têm histórico de envolvimento com drogas, criminalidade e cumprem medida de internação socioeducativa. A volta à sala de aula abre os horizontes para que possam enxergar o mundo com outro olhar e sonhar com um futuro diferente daquele que a sociedade espera para eles”, pontua.
Segundo Rosani, a aproximação com os alunos facilita o trabalho realizado pela instituição e contribui para que eles sejam frequentes. “Eu carreguei muitos no colo, eu conheço a história de vida deles e sei que alguns não têm referência familiar. Assim, a proximidade gera confiança e eles se sentem protegidos aqui na escola”, garante.
Depois de 43 anos fora da escola, Lúcia do Carmo dos Santos, 59 anos, relata as oportunidades que a Educação de Jovens e Adultos tem lhe proporcionado. “É uma nova etapa da minha vida. Todos os dias é um novo aprendizado e experiência, que são compartilhados com os amigos que aqui fiz”, afirma.
A professora de Língua Portuguesa, Mariah Andrade, lembra que os motivos para os participantes abandonarem os estudos são diversos. “Alguns foram cooptados pela violência social, outros tiveram que começar a trabalhar para ajudar na renda de casa ou foram pais e mães na adolescência”. Segundo ela, os alunos possuem bagagem cultural e conhecimento da vida peculiar, e o desejo que eles têm de aprender representa uma valorização ao seu trabalho. “Há uma maturidade, pois já colheram os frutos da falta de estudo. Então, eles têm sede de aprendizado e querem mudar a sua própria história. Todo esse interesse me motiva e comprova que estou contribuindo para transformá-los tanto no aspecto educacional quanto no pessoal”, completa.
Para Márcio de Oliveira Bitarães, 41 anos, a EJA permitirá alcançar um objetivo. “É a oportunidade de realizar o sonho de me formar. Além disso, com o conhecimento adquirido em sala de aula, poderei exigir os meus direitos como cidadão”, afirma. A Escola Estadual São Pedro e São Paulo conta com 680 estudantes e oferta, além da Educação de Jovens e Adultos, o Ensino Fundamental, Médio e a Educação Integral.
EJA
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem como objetivo atender pessoas que não tiveram oportunidades de estudos na idade própria e desejam completar a Educação Básica – Ensino Fundamental e Médio. De acordo com a Resolução SEE nº 2.843, de 13 de janeiro de 2016, idade mínima para matrícula no Ensino Fundamental e Médio é, respectivamente, de 15 e 18 anos.
Oferecidos nas escolas estaduais, os cursos presenciais da EJA são organizados da seguinte forma: os anos finais do Ensino Fundamental têm duração de 02 anos letivos, distribuídos em 04 períodos semestrais. O Ensino Médio, com 03 períodos semestrais, é realizado em 01 ano e meio.
Os jovens e adultos que desejam retornar os estudos devem entrar em contato com as escolas autorizadas que oferecem o curso presencial de EJA. Para se matricular, os interessados precisam apresentar o histórico escolar e documentos pessoais. Mais informações nas Superintendências Regionais de Ensino (SREs).
Por William Campos Viegas