Na semana passada o Conservatório Estadual de Música Haidèe França Americano celebrou seus 48 anos com a apresentação de músicos renomados, audições, palestras e oficinas. A semana cultural promoveu a integração entre escola e comunidade, e estudantes de diversos instrumentos musicais puderam demonstrar suas habilidades para o público em geral, que lotou o auditório "Ondina Frederico Gomes". Mas o que mais chamou a atenção da reportagem foi a inovação representada pelo método Teclado Didático para o Ensino da Música, TEDEM, inventado e patenteado pelo músico e professor de flauta Estevão Teixeira.
O método consiste na utilização de um pequeno teclado de madeira: ao se levantar uma tecla, visualiza-se a nota correspondente. Segundo Estevão, o TEDEM permite o entendimento do caminho da sonoridade e a improvisação das notas. "Os métodos de ensino tradicionais se baseiam principalmente na partitura, desse modo o estudante fica preso ao papel. Com o TEDEM, o aluno pode, através de exercícios, visualizar a música e reconhecer os tons, o que o aproxima do músico popular, que é capaz de tocar várias composições ‘de ouvido’, a partir do conhecimento de poucos acordes."
Professor Estevão Teixeira demonstra o método TEDEM
Com sua invenção, Estevão espera abrir o mercado de trabalho para os músicos formados nos conservatórios, aproximando-os do repertório da música popular brasileira. "Nossa música é riquíssima, cheia de tons e cores, mas o ensino tradicional se revela incapaz de promover satisfatoriamente seu aprendizado", completa o professor, há três anos na escola. No dia 30, ele também esteve à frente de uma oficina de flautas, onde ensinou a confecção de pífanos de bambu.
Músicos de renome participaram das Comemorações
Outro evento que marcou a semana cultural do conservatório foi a presença de Odete Ernest Dias, flautista e ex-professora da Universidade Nacional de Brasília, UNB. No dia 30 de outubro ela esteve no "Haidèe França" como palestrante, mas proporcionou também uma audição. Francesa, veio para o Brasil em 1952, aos 23 anos, a convite de Luiz Heitor Correa de Azevedo, eminente musicólogo que à época contratava na Europa músicos para Orquestra Sinfônica Brasileira, OSB. Até o início da década de 70, ela participou das orquestras das mais importantes rádios brasileiras, como a Nacional, a Mayrink Veiga, ambas do Rio de Janeiro, e a Tupi, de São Paulo.
"Tive a sorte de viver a música desde cedo em minha casa em Paris, meu pai além de médico era músico e, aqui no Brasil, pude conviver com Pixinguinha, Tom Jobim e Villa Lobos", conta. Do maestro, Odete guarda uma inusitada lembrança: "Certa vez fui para a Europa de navio, em férias, e Villa Lobos me pediu que levasse um grande baú com partituras, pois ele iria depois, de avião. Na alfândega do porto de Calais, fui obrigada a abrir a mala, quase do tamanho de uma mesa de cozinha. Para minha surpresa, lá estavam garrafas de bebidas, casacos de pele da esposa dele e algumas poucas partituras". Não teve dúvidas: deixou a mala no porto e foi embora. Posteriormente, de acordo com Odete Ernest Dias, o maestro enviou um emissário para buscar a pesada encomenda.
Odete Ernest Dias toca pifano de bambu confeccionado pelos alunos do conservatório
De 1974 a 1994 a flautista trabalhou no departamento de música da UNB, e ajudou a fundar o Clube de Choro de Brasília, juntamente com Waldir Azevedo, um dos maiores representantes desse estilo genuinamente brasileiro. Aposentada da universidade e atualmente residindo no Rio de Janeiro, Odete dá aulas de flauta doce em uma escola pública de Botafogo, onde a maior parte dos alunos mora no Morro Dona Marta. "Parece-me que a dificuldade de sobrevivência enfrentada pelos estudantes gera neles uma musicalidade muito forte. Outro dia cheguei à escola e vi um menino tocar, ‘de ouvido’, uma peça de Bach, após poucas aulas sobre o compositor." Em sua palestra, Odete também defendeu a inclusão do ensino da música nas escolas públicas regulares. "A música é tão necessária quanto a matemática, daí a necessidade de se incluí-la na educação fundamental", complementou.
Aula de Felipe Prazeres permitiu a atualização dos professores de violino do conservatório
Nos dias 31 de outubro e 1.º de novembro, foi a vez das master-classes de Felipe Prazeres, spalla da orquestra Petrobrás. As master-classes foram abertas aos professores, alunos de nível avançado e músicos da comunidade, que puderam refinar sua técnica. O spalla é o violinista que ocupa a segunda posição em importância na estrutura de uma orquestra, precedido apenas pelo maestro. "É o destaque que executa os momentos de maior apuro técnico durante a apresentação", segundo Marcus Rodrigues, professor do conservatório e um dos coordenadores da semana cultural.
Música além dos muros
Assim como os outros onze Conservatórios Estaduais de Música, o "Haidèe França Americano" estende sua atuação junto à comunidade através de projetos de integração. Em Juiz de Fora são atendidos mais de três mil alunos em oito escolas públicas de ensino regular, sendo uma de educação especial, de acordo com a diretora Auta Tabet, cuja trajetória se confunde com a história recente do conservatório. Formada em piano pela escola e em flauta pelo Conservatório Brasileiro de Música, a diretora pretende realizar em 2004 a segunda edição do concurso de flauta doce para os conservatórios.
Outras Informações pelo tel.: 32 3218 0731
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Secretaria de Estado de Educação