Especialistas ressaltam a importância de atividades extra-classe. Espaços culturais de BH e projetos da SEE incentivam essas atividades

Cultura, história e identidade são palavras muito presentes nos lugares que têm a função de despertar a memória das pessoas, sejam eles centros culturais, bibliotecas ou museus. São locais que pelo simples fato de existirem configuram-se como fonte de conhecimento. Por meio de atividades extracurriculares, nos últimos anos, as escolas têm se apropriado desses espaços para ensinar seus alunos. Forma de ensino que é defendida pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Segundo o documento, o ensino deve ser ministrado com base em 11 princípios e entre eles está a valorização da experiência extra-escolar. No Dia Internacional dos Museus, comemorado nesta quarta-feira (18/05), a importância desses espaços como forma complementar de ensino ganha evidência.

 

Para a professora titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Magda Soares, os passeios escolares são componentes importantes para o desenvolvimento dos estudantes. São eles que dão realidade ao aprendizado dos alunos. “O estudante vai à escola para desenvolver habilidades e conhecimentos que devem ser utilizados fora da sala de aula. Visitas a locais como museus, por exemplo, configuram-se como um capital cultural que a instituição de ensino têm a obrigação de oferecer a seus alunos”.

 

Entre os locais extra-escolares dedicados ao conhecimento dos estudantes os museus ocupam espaço de destaque. Eles, assim como as escolas, são espaços dedicados a ensinar e aprender. Minas Gerais tem hoje 319 museus, 41 deles em Belo Horizonte e parte deles integram o Circuito Cultural da Praça da Liberdade, maior complexo cultural do Brasil. Cientes da importância da relação entre escolas e museus, em seu primeiro ano de existência, só o Espaço Tim UFMG do Conhecimento e o Museu e do Metal, espaços que fazem parte do Circuito, já receberam a vista cerca de 18 mil estudantes. Para a professora, Magda Soares, esses números mostram que as escolas estão cumprindo seu papel social. “A maioria dos estudantes de escolas públicas são de camadas populares, que, geralmente, não têm acesso a esses espaços, se não for por meio das escolas. É muito importante que as escolas assumam esse papel”.

Circuito Cultural da Praça da Liberdade começa a chamar atenção já pelo conjunto arquitetônico. FOTO: Site Circuito



Entre os projetos desenvolvidos pela Secretaria de Estado de Educação (SEE) que incentivam as atividades extracurriculares está o Escola Viva, Comunidade Ativa, que atende a 440 mil estudantes, em 501 escolas da rede estadual de ensino, localizadas em áreas com população de vulnerabilidade social. Só em 2010, por meio de parcerias com dez diferentes instituições, 385 escolas visitaram museus, órgãos públicos e participaram diversas atividades culturais, o que beneficiou a mais de 38 mil estudantes. Entre os parceiros do projeto estão a Fundação Clovis Salgado e a Casa Fiat de Cultura, elas enviam toda semana a programação cultural para a coordenação do Escola Viva, Comunidade Ativa, que encaminha os e-mails para todas as escolas participantes do projeto e fica a cargo da escola decidir se vai ou não em determinado evento.

Espaço TIM do Conhecimento costuma atrair muitos estudantes. FOTO: Site Circuito - Daniel Mansur

As escolas que participam do projeto utilizam um pequeno roteiro cultural, que além de conter dicas de variados espaços que podem ser visitados pelos estudantes, traz algumas orientações para que o passeio seja um sucesso. Entre elas, a necessidade do professor planejar a visita e ter clareza das intenções educativas a serem alcançadas no passeio. O documento também ressalta a importância de se fazer uma avaliação após o passeio. De acordo com o manual, é necessário que haja uma discussão se o passeio deu certo e quais os pontos positivos e negativos.

Passeio educativo

Para que a função das excursões escolares esteja completa não basta apenas que os jovens estejam fora do ambiente escolar, é preciso toda uma preparação. Na sala de aula, os professores devem trabalhar os saberes que os estudantes precisam ter para que no dia da visita eles tenham a capacidade de entender a estrutura de um museu ou a importância histórica de determinada obra. Na Escola Estadual Alaíde Lisboa de Oliveira, no bairro Taquaril, o professor de história faz questão de preparar bem seus alunos antes de cada passeio. Anderson Alves garante que a preparação aumenta o interesse dos alunos.

Visita dos estudantes da EE Alaíde Lisboa ao Inhotim. FOTO: Arquivo da Escola


“No ano passado nossos alunos fizeram uma excursão para o Instituto Cultural Inhotim. Antes da visita fizemos uma aula interativa sobre a arte. Apresentei para eles o que seria arte moderna, pós-moderna, contemporânea, entre outras. Foi praticamente uma troca de ideias”. Durante a visita os alunos questionaram e interagiram com as obras, o que segundo o professor ajudou no processo de aprendizagem. “Os alunos gostam de tudo que fuja do ambiente escolar. As excursões são ferramentas importantes de aprendizado porque aguçam a curiosidade deles. Em uma pesquisa de campo, por exemplo, podemos dar atividades que possam ser iniciadas nos próprios locais e terminadas em casa. Os passeios funcionam como recreação, mas não deixam de ser uma aula”.

Segundo a estudante do 2º ano do ensino médio, da E.E. Alaíde Lisboa de Oliveira, Kênia Caroline Brito Leão, de 16 anos, a participação nos passeios ajuda a entender melhor os conteúdos. “No ano passado participei de três visitas. Em todas tivemos primeiro aulas sobre os temas, que nos ajudaram a direcionar o nosso olhar no momento do passeio. Quando nós voltamos para a escola fizemos trabalhos e dinâmicas sobre os locais visitados. Aprender assim é bem melhor, saímos da ideia de que na escola devemos apenas copiar a matéria. É bem melhor quando vivenciamos o que estamos aprendendo”.

Preparação antes das visitas é essencial para aproveitar o tempo fora de sala de aula. FOTO: Arquivo da Escola

A relação entre museu e escola despertou o interesse de Luciana Conrado Martins. Em sua dissertação, a doutora em educação pela Universidade de São Paulo (USP) estudou a interação entre as escolas e o Museu de Zoologia da USP. Luciana ressalta que a importância da preparação antes das visitas. “O potencial educativo do museu está muito relacionado em despertar a curiosidade científica do aluno. O tempo que ele passa no museu não é suficiente para que ele aprenda sobre algum conteúdo, mas sim para que ele aprimore o que já foi ensinado na sala de aula”.


Agendamento de atividades

No intuito de incentivar a visitação dos alunos da rede estadual de ensino a locais que possam servir como fonte de conhecimento a Secretaria de Estado de Educação (SEE) oferece para as instituições o custeio das visitas. Para isso, basta que a escola envie um projeto detalhando das ações que serão desenvolvidas no passeio. Entre os itens que devem conter no projeto está o objetivo, o custo total, quantos alunos irão e qual o tipo de transporte utilizado.

Segundo a Superintendente de Educação Infantil e Fundamental, Maria das Graças Pedrosa Bittencourt, as solicitações vão desde visitas a museus à idas ao cinema. “As solicitações das escolas são sempre referentes a um trabalho que está sendo desenvolvido. Muitas vezes elas estão relacionadas à culminância de uma atividade”.